Mais uma oficiala relata ameaças e abusos que sofreu no cumprimento de diligência de penhora em um estabelecimento comercial na cidade de Nova Esperança no Estado do Paraná.
Veja abaixo a transcrição dos fatos ocorridos no último dia 02 de março.
“Colegas oficiais,
Para quem não me conhece, sou oficiala em Nova Esperança, sou a única oficial da vara, a qual engloba 16 municípios, abrangendo assim, uma grande extensão territorial e uma área rural interminável…..
Pois bem, gostaria de aproveitar o espaço e, inclusive, o tema (periculosidade do cargo) para relatar a triste experiência que tive na semana passada, dia 02/03. Vou resumir os fatos: fui efetuar uma penhora numa empresa em Nova Esperança e chegando ao local expliquei o teor do mandado ao proprietário da empresa, o qual começou a se exaltar e a falar um monte de impropriedades.
Enfim, o cidadão quando viu que eu estava lavrando o Auto de Penhora e Avaliação começou a gritar comigo, e na sequência, começou a lançar objetos do escritório no chão, em minha direção. Não se contentando, o sujeito atirou a minha bolsa pessoal ao chão e fez ameaças horríveis do tipo: “se você escrever mais uma letrinha nesse papel você vai se arrepender”; “você tem família? se você chamar a polícia, você vai ver o que eu sou capaz de fazer”, “você tem sorte de ser mulher”, “se alguma coisa for penhorada aqui hoje, vai morrer gente”; “chama a polícia, mas chama um batalhão, porque hoje eu quero confusão, e se eles vierem, vai morrer gente aqui hoje”. Por final das contas, o sujeito pegou o Auto que estava sendo lavrado em cima da escrivaninha, amassou, rasgou e jogou o documento ao chão”. Foi uma experiência terrível.
Após esse circo eu recolhi o mandado e o Auto de penhora destruído e saí do local, firme e de cabeça erguida. E ainda tive que ouvir do elemento: “some daqui, não me apareça mais aqui”.
Quando saí do local e me vi livre daquela situação, eu caí em prantos e entrei num estado de nervos que nunca fiquei em toda a minha vida. Aí, em ato contínuo, fui até a Vara e relatei o ocorrido ao Diretor de Secretaria, o qual me acompanhou até a delegacia da Policia Civil (Nova Esperança não possui Polícia Federal).
Chegando na delegacia, o delegado, ao ver o meu estado e ver o auto destruído, imediatamente deslocou-se para a empresa do elemento, juntamente com outro policial e com o Diretor. O que o delegado e o meu diretor relataram me deixou ainda mais perplexa, ou seja, quando os policiais deram voz de prisão para o elemento, o mesmo resistiu à ordem de prisão e entrou em luta corporal com o delegado e com o Policial.
Por fim, hoje fez uma semana do ocorrido e o sujeito, pelos seus atos, foi enquadrado nos crimes de desacato, ameaça de morte, resistência e supressão de documento público. Como este último crime só é passível de fiança judicial, o elemento encontrava-se na prisão até hoje a tarde. Hoje estou melhor e estou tentando seguir em frente e não desanimar, mas está difícil.
Depois de uma experiência desta, estou sinceramente me esforçando para esquecer o ocorrido, mas a lembrança daquele sujeito esmurrando a mesa e querendo me esmurrar vem à minha cabeça a toda hora, isto sem contar no medo do que este sujeito possa fazer quando sair da prisão (acho que ele vai ser solto amanhã). Esse tipo de gente não têm nada a perder. Enfim pessoal, nestes 05 anos que exerço o cargo de Oficiala, nunca me ocorreu nada parecido. É claro que alguns desaforos a gente acaba engolindo mesmo, mas da forma como ocorreu na semana passada, nunca me havia ocorrido. Cheguei a imaginar que o sujeito iria me agredir fisicamente.
Peço desculpas pelo desabafo, mas achei conveniente relatar o lamentável fato, até mesmo para alertar os colegas: procurem evitar fazer algumas diligências sozinhos, e ainda, quando perceberem que podem estar correndo algum risco, saiam, e só voltem com reforço policial. Vou relatar o ocorrido ao Tribunal e ter esperanças, quem sabe, de que seja nomeado mais um Oficial pra Nova Esperança.
Um abraço a todos, fiquem com Deus.
Sheila?